domingo, maio 16, 2010

o Arquiteto, o Rio e eu - Depoimento

Faz dois meses e meio que cheguei. Depois que tudo o que era novo deixa de ser, é hora de enfrentar a realidade do campo missionário. E quando falo campo missionário não me refiro apenas à universidade em si, onde trabalho efetivamente. Digo “campo” como uma expressão de uma nova vida que agora tenho. Sim, por que tudo que tenho hoje, que sinto, vivo, enfrento, faço e ganho é conseqüência da minha decisão de ter obedecido ao Deus que me enviou ao campo.

E é essa certeza [de que por Ele estou aqui] que me mantém, em todos os sentidos. Isso significa que não tem sido fácil reconstruir tudo e começar uma nova vida [é assim que me sinto], mas significa também que estou certa de que estou onde Ele quer que eu esteja e estou disposta a deixar que Ele seja o Arquiteto e eu, sua aprendiz. Ainda estou aprendendo a lidar com o tempo, lidar com os estudantes, com as meninas que discipulo no campus, com o próprio trabalho missionário, com novos amigos e igreja.

Eu sou grata a Deus pela bênção de poder estar 100% a disposição dEle e trabalhar com pessoas maravilhosas, servos fiéis. Sou grata por Sua Igreja, que me apóia e que acredita que Ele me escolheu. Sou grata pela minha família que me ama e me apóia incondicionalmente.

domingo, maio 02, 2010

O medo e outras coisas inexplicáveis.

Medo de andar no escuro; medo de dirigir; medo de altura; medo de ficar só; medo do novo; medo dos outros; medo de mim; medo dos cabelos brancos; medo de começar um namoro; medo que termine também; medo de cair; medo de desapontar; medo daquele monte de formigas juntas; medo da distância; medo de se aproximar muito; medo de engordar; medo de se expor; medo de sorrir na hora de ficar sério; medo de falhar.

Quem nunca teve medo? Quem explica isso? Freud né? rs.
Mas...e a coragem? Ah...a coragem.

Coragem de viajar só pra muito longe!coragem de esperar pra ver o que vai acontecer; coragem de não pensar duas vezes, às vezes; coragem de...de...de dizer eu te amo; coragem de dizer o que pensa independente do que os outros pensam; coragem de se fazer o que se tem medo!

Alguém tem coragem. Alguém tem medo.
Não se exclui a possibilidade desse alguém ser a mesma pessoa.

-Tens fé?
-Sim.
-Tens medo?
-Também.
-Tens esperança?
-Sim.
-Tens medo?
-Também.
-Tens sonhos?
-Sim.
-Tens medo?
-Também.
-Tens coragem?
-Sim.
-Tens medo?
-Também.

O medo não me impede andar.

“Nunca existo
se alguém não me inventar!
Também não adianta
fingir que não é contigo,
e me deixar pra lá.
Desse modo
vou te seguir
vou te impedir,
vou te prejudicar
além de te atazanar.
E como uma indesejável sombra
sempre te acompanhar.
Um dia você tem
que se virar
olhar pra mim,
perguntar,
me ver indagar e ao mesmo tempo responder:
Eu sou o seu MEDO,
pareço maior que você?
Você vai entender que ao me encarar
pode se curar
pode me desmanchar
posso desaparecer
pra você conhecer
minha melhor vantagem.
É que nessa hora
eu me transformo
no pai da coragem.”
O Menino Inesperado - Elisa Lucinda

domingo, fevereiro 28, 2010

Nordestinamente me retiro

Duas coisas me mostraram o que ele realmente é. A primeira foi o olhar exterior, como quem se olha no espelho. Foi preciso sair dele pra olhar pra ele. Conhecer outras paisagens, e nas diferenças, encontrar sua singularidade. A segunda foi o olhar alheio.Sim, por que outros olhares me mostraram o que eu não conseguia ver sozinha. Não acho isso estranho por que, de fato, não conseguimos reconhecer o que temos até que percamos ou que outro lhe confira valor. É assim com isso que é meu. O lugar que a gente nasce é nosso. E se for como na maioria das vezes, ele é também onde a gente cresce, onde estão construídas nossas memórias mais vivas, o que nós somos afinal. E não me refiro à rua ladeirada em que descia montada na bicicleta vermelha que tínhamos, nem àquele prédio onde o cavalo mordeu meu irmão [bizarro isso né?], nem àquele bairro onde esse mesmo irmão desaparecia [coitada de mainha, pense!]. Não me refiro às micro regiões, mas a uma só.

Viajei por algumas cidades do litoral nordestino...por ali sinto o mesmo calor, me banho em águas quentes e em geral tranquilas, como tapiocas deliciosas e tomo café no jantar. Por essas bandas, eu ouço um português meio esquisito, mai tão bão rapai! Sei que algumas pessoas sabem falar o português bonito, mas se dão o luxo de falar nordestino. Oxe, minino!Vixi maria! Vôte! Visse? As expressões merecem um capítulo só delas. Li sobre retirantes nordestinos. Nunca pensei que me tornaria um deles. Nem desejei. Mas a vida tem dessas surpresas. Nem sempre ruins.

Me retiro para ver outras paisagens e lembrar das tuas com emoção.
Te deixo e, ao mesmo tempo, te levo pra onde for.
Levo o teu calor e o teu sorriso fácil.
Levo também aqueles plantados nesta terra nordestina do meu coração.
Daquele cheiro de terra molhada após a chuva, não esquecerei.
Até onde me for possível, cantarei a música do teu falar.
Não sei se mudaremos, mas o que fomos até agora ninguém poderá mudar.
Em breve nos veremos.