domingo, fevereiro 28, 2010

Nordestinamente me retiro

Duas coisas me mostraram o que ele realmente é. A primeira foi o olhar exterior, como quem se olha no espelho. Foi preciso sair dele pra olhar pra ele. Conhecer outras paisagens, e nas diferenças, encontrar sua singularidade. A segunda foi o olhar alheio.Sim, por que outros olhares me mostraram o que eu não conseguia ver sozinha. Não acho isso estranho por que, de fato, não conseguimos reconhecer o que temos até que percamos ou que outro lhe confira valor. É assim com isso que é meu. O lugar que a gente nasce é nosso. E se for como na maioria das vezes, ele é também onde a gente cresce, onde estão construídas nossas memórias mais vivas, o que nós somos afinal. E não me refiro à rua ladeirada em que descia montada na bicicleta vermelha que tínhamos, nem àquele prédio onde o cavalo mordeu meu irmão [bizarro isso né?], nem àquele bairro onde esse mesmo irmão desaparecia [coitada de mainha, pense!]. Não me refiro às micro regiões, mas a uma só.

Viajei por algumas cidades do litoral nordestino...por ali sinto o mesmo calor, me banho em águas quentes e em geral tranquilas, como tapiocas deliciosas e tomo café no jantar. Por essas bandas, eu ouço um português meio esquisito, mai tão bão rapai! Sei que algumas pessoas sabem falar o português bonito, mas se dão o luxo de falar nordestino. Oxe, minino!Vixi maria! Vôte! Visse? As expressões merecem um capítulo só delas. Li sobre retirantes nordestinos. Nunca pensei que me tornaria um deles. Nem desejei. Mas a vida tem dessas surpresas. Nem sempre ruins.

Me retiro para ver outras paisagens e lembrar das tuas com emoção.
Te deixo e, ao mesmo tempo, te levo pra onde for.
Levo o teu calor e o teu sorriso fácil.
Levo também aqueles plantados nesta terra nordestina do meu coração.
Daquele cheiro de terra molhada após a chuva, não esquecerei.
Até onde me for possível, cantarei a música do teu falar.
Não sei se mudaremos, mas o que fomos até agora ninguém poderá mudar.
Em breve nos veremos.

5 comentários:

Lucas Gerhard :: gerhard-way disse...

hum, cheiro de terra molhada na verdade nao é um cheiro propriamente dito, é só que seu nariz percebe o aumento da umidade do ar o ar fica com mais partículas de h2o em forma de vapor de água. rsss

[a]voada disse...

"Foi preciso sair dele pra olhar pra ele."
Quem se identifica levanta a mão? o/
Não necessariamente nesta ordem, mas saindo dele e trazendo ele comigo, não sei...a visão amplia. Estranho, mas parece que consigo vê-lo como num mapa. Não que não o enxergasse antes, mas a medida que me conheço, conheço-o também. =D

Lindo, Elisa!

Me fez feliz...

Marília disse...

Que bacana te reconhecer como escritora!Mais bacana ainda é perceber o quanto te sentes nordestina, até mesmo retirante! Gostei imensamente de ler estas palavras assim tão carregadas deste sentimento de amor à terra natal, a esta região que só valoriza quem dela se afasta mesmo que seja por mandado do Senhor.Que o Grande e Soberano DEUS continue a te guardar.Beijos, Marília.

Carolina Souza disse...

Que liiiindo!!! Amei Elisa. E estou aprendendo a amá-lo! Muito lindo seu texto... e essa expressão de amor pelo nordeste. por favor, não perca mesmo o seu cantar ao falar...
Vou seguir você por aqui!
beijos :)

fERNANDINHO disse...

que palavras lindas e muito bom ler o que vc escreveu, me senti mais proximo de minha terra
um grande beijo que DEUS TE ABENÇOE CADA DIA MAIS

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